Maioria dos municípios brasileiros não atingiu a meta de cobertura para vacinas do calendário infantil em 2023
Situação coloca em risco pessoas que não podem se vacinar, como imunossuprimidos e até grávidas; BCG e hepatite B tiveram pior índice da década
Publicado em: 23/02/2024
Mais de 60% dos municípios brasileiros não atingiram no ano de 2023 a meta de 95% de cobertura vacinal recomendada pelo Ministério da Saúde, quando considerados os imunizantes aplicados durante o primeiro ano de vida. Ainda que o total de cidades no país que alcançaram o índice tenha saltado de 1.745 em 2022 para 2.100 no último ano – de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 5.568 municípios espalhados por todo o território –, os números mostram-se aquém do necessário.
A única exceção refere-se à primeira dose da tríplice viral, que se igualou ou superou a meta em 3.084 cidades. Aplicada a partir dos 12 meses de vida, a vacina protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola. Entretanto, a marca despenca na segunda dose, ministrada aos 15 meses. Nesse caso, apenas 1.326 atingiram o índice preconizado pelo ministério.
Desde 2016, as coberturas de todos os imunizantes previstos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) estão em queda. A situação é preocupante, uma vez que surtos de doenças imunopreveníveis, como sarampo e poliomielite, podem surgir em todo o Brasil, colocando em xeque a saúde da população.
Essenciais para diminuir a circulação de vírus e outros microrganismos nocivos, as altas coberturas garantem a proteção coletiva. Isso significa que quando a grande maioria das pessoas fazem a sua parte e se imunizam, elas também protegem aquelas que, por motivos específicos, não podem se vacinar – caso dos imunossuprimidos, dos pacientes em tratamento de câncer, dos alérgicos e até mesmo das grávidas.
Números sugerem melhora, mas situação preocupa
Segundo os dados preliminares divulgados pelo Ministério da Saúde, oito imunizantes previstos no calendário infantil registraram alta quando comparados a 2022. Foram eles: hepatite A, que saltou de 73% para 79%; primeiro reforço da pneumocócica, de 71% para 78%; primeiro reforço da meningocócica, de 75% para 80%; DTP, de 67% para 75%; primeira e segunda doses da tríplice viral, que aumentaram de 80% para 86%, e de 58% para 62% respectivamente; poliomielite, de 67% para 75%; e febre amarela, de 61% para 67%.
Já a vacina BCG, que protege contra a tuberculose, e a da hepatite B – ambas ministradas nos primeiros 30 dias do recém-nascido –, tiveram a pior cobertura da última década, com redução de quase 30% em relação ao ano anterior.
De acordo com a pasta, uma reestruturação que buscou unificar os diferentes sistemas utilizados para registrar as vacinas aplicadas pode ter impactado os números. Acredita-se que mais de 2,6 milhões de doses realizadas diretamente nas maternidades, entre janeiro e maio de 2023, ficaram de fora da conta – sendo 400 mil de BCG e 600 mil de hepatite B. Mesmo com a correção, os números ficariam abaixo do esperado.
Além desses, quatro imunizantes recomendados para menores de um ano podem ter sido afetados, e registraram uma pequena queda quando comparados a 2022: rotavírus, que caiu de 77% para 76%; meningocócica, de 79% para 75%; pneumocócica, de 81% para 78%; e varicela, que caiu de 73% para 72%.
Desempenho animador
A vacina contra o HPV, que desde 2014 vinha caindo, teve um incremento de 30% no número de doses aplicadas no último ano. A estratégia de imunização em ambiente escolar foi apontada como fundamental para a importante conquista.
Outras ações, como o microplanejamento, que estabelece soluções de acordo com as particularidades de cada região, a chamada “imunização extramuros”, a ampliação dos horários de funcionamento das salas de vacina e a busca ativa por não vacinados também foram destacadas pelo Ministério da Saúde e devem ser reforçadas, a fim de melhorar e retomar as altas coberturas neste ano de 2024.
Natasha Pinelli | butantan