Uma pesquisa mostrou que oito em cada dez consumidores com dívidas em agosto já haviam figurado em listas de inadimplentes anteriormente. Ao todo, o país contava com 71,78 milhões de brasileiros com o nome negativado no mês.
O estudo, conduzido pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), revelou que a maioria dos inadimplentes — 62,63% — ainda não havia quitado dívidas antigas e ficou com o nome sujo novamente.
Atualmente, a inadimplência no país atinge cerca de 43,13% da população adulta.
O levantamento também aponta que, em média, consumidores que já tiveram o nome negativado levam apenas 2,5 meses até que uma nova dívida vença.
Nos últimos 12 meses encerrados em agosto de 2025, houve um crescimento de 5,18% no número de devedores reincidentes em relação 12 meses anteriores.
Segundo o presidente da CNDL, José César da Costa, o alto número não reflete apenas dificuldades individuais das famílias para honrar compromissos, mas também impacta consumo, crédito e crescimento econômico do país.
“Essa crescente ‘bola de neve’ de dívidas, impulsionada por juros altos e um cenário macroeconômico desfavorável, se torna um ciclo vicioso difícil de ser quebrado, deixando o brasileiro em situação de vulnerabilidade e fragilizando ainda mais a economia nacional”, destaca.
A taxa de juros está atualmente em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006.
Perfil dos devedores
A análise do perfil dos reincidentes em agosto de 2025 aponta que a faixa etária de 30 a 39 anos é a mais representativa, com 25,81% do total.
Quanto à participação por gênero, a distribuição se mantém equilibrada: 53,60% são mulheres, e 46,40%, homens.
Recuperação do crédito
O Indicador de Recuperação de Crédito de Pessoas Físicas, que acompanha os consumidores que conseguiram sair dos cadastros de inadimplentes, registrou queda de 12,59% nos últimos 12 meses encerrados em agosto de 2025 em comparação com os 12 meses anteriores.
Veja mais detalhes:
Quitação de dívidas de longo prazo: a maior queda (-21,40%) ocorreu entre consumidores que levaram 4 a 5 anos para quitar todas as dívidas.
Faixa etária dos recuperados em agosto: 50 a 64 anos, representando 22,58% do total.
Distribuição por gênero: 52,01% mulheres, e 47,99% homens.
Valor médio pago por consumidor recuperado: R$ 2.721,26, considerando todas as dívidas.
O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior, alerta que os dados evidenciam que o tempo médio para quitação das dívidas é longo e que a maior parte dos acordos envolve valores relativamente baixos.
“Com juros altos, o poder de compra e a capacidade de negociação ficam comprometidos, comprimindo a renda e dificultando a estabilidade financeira. Como consequência, cresce o risco de exclusão financeira, deixando milhões de brasileiros à margem do mercado de crédito”, pontua.
Para ele, o cenário exige ação coordenada entre mercado, Estado e programas de educação financeira.
“Caso contrário, a inadimplência continuará sendo um obstáculo estrutural ao crescimento econômico e à mobilidade social”, alerta.