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“Vem de berço”: a importância da safra para quem vive da renda do pinhão em SC

Dois meses de dias corridos podem significar a renda do ano inteiro para produtores; veja como funciona a extração e o comércio do pinhão

“Vem de berço”: a importância da safra para quem vive da renda do pinhão em SC
Foto: Jaison Liz da Rosa em mais um dia na safra do pinhão – Arquivo Pessoal

“De manhã cedo eu saio pro mato e subo nas araucárias pra derrubar as pinhas”. Assim começam os dias agitados – e arriscados – de Jaison Liz da Rosa durante o período de pouco mais de dois meses da safra do pinhão na Serra catarinense.

“Você não pode perder tempo, passa rápido. Nesses dois meses tem que fazer a safra para o ano inteiro, e armazenar o dinheiro”, conta o extrativista de 40 anos, morador do município de Painel.

A tradição que, segundo ele, vem de berço, é seguida por pelo menos 3 mil famílias espalhadas pelas 18 cidades da região. “Todas as famílias que moram no campo, no sítio, elas acabam tirando o pinhão, isso vem de berço, é uma cultura.”

Em um ano produtivo, o período da safra e comércio do pinhão pode representar até 90% da renda anual de Jaison da Rosa.

“A safra do pinhão começa em abril e vai até final de maio, início de junho. Terminamos de entregar o pinhão lá pela metade de junho, que é quando encerra a safra”, explica.

Após escalar as araucárias e derrubar as pinhas, a rotina do extrativista é baseada em amontoar os frutos e levar para casa. “Depois que começa a debulhar, aí tem que catar e deixar em torno de uma semana a 10 dias, então ele começa a desmanchar as pinhas.”

Impacto da pandemia

Quando está pronta para consumo, Jaison costuma sair para vender o produto pelas ruas da cidade. A pandemia da Covid-19, no entanto, causa impacto nesse sistema.

“A minha comercialização é em torno de uns 70% direto ao consumidor, nas cidades, e uns 30% para um atravessador. Mas por ser ano de pandemia, escolho dar uma segurada nessa venda direta, e atendo muito por Whatsapp, como uma tele-entrega. E esse ano tivemos uma safra média, a quantidade de pinhão não foi muito grande, por isso caíram muito as vendas”, relata.

O ano de 2021 foi de uma safra média, avalia o extrativista. “Esse ano calculo que vou vender em torno de 4 toneladas de pinhão. Já tive ano de vender 15, 12 toneladas. Agora as safras estão ficando menor, ano passado consegui tirar apenas uma tonelada. Mas a previsão para o ano que vem é boa, tem muita pinha nova, se não der nenhum tipo de problema na natureza, temos esperança de uma safra muito boa”, garante.

Jaison da Rosa complementa a renda da família com a agricultura de hortaliças, que é vendida para merenda escolar na região.

“Mas como é uma região muito fria, também não conseguimos ter uma produção o ano inteiro, então quando chega o inverno é só o pinhão, nosso frio não deixa produzir outro tipo de hortaliça”, lembra o produtor.

Dados da safra do pinhão em SC

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Santa Catarina é o segundo Estado do país que mais produz pinhão.

As estatísticas mais recentes correspondem ao ano de 2019, quando a quantidade produzida na extração vegetal do pinhão em Santa Catarina foi de 3.120 toneladas. O primeiro colocado, Paraná, contabilizou 3.290 toneladas.

No entanto, segundo o engenheiro agrônomo da Epagri, José Márcio Lehmann, os dados da produção de pinhão no Estado ainda não são muito precisos.

“O problema da safra do pinhão é que a grande maioria do comércio é realizado informalmente, são raros os que tomam nota de sua produção. A gente tá começando uma conversa aqui na Epagri na região de Lages, que são 18 municípios, para começar um trabalho de visitas aos produtores e então conseguir começar a levantar esses dados de produção, em parceria com as prefeituras e equipes da Secretaria de Agricultura”, explica.

O projeto, que ainda está em fase inicial na Epagri, visa a realização de uma espécie de “Censo” na agricultura da Serra catarinense.

“A gente vai visitando os produtores, não exclusivamente com essa pauta da safra do pinhão, mas já que vai visitar começa a levantar esses pontos também. Queremos fazer um trabalho com as prefeituras para incentivar os produtores a tomar nota de sua produção, não só do pinhão mas de tudo que eles produzem, isso é interessante para o produtor e para o município, que vai ter um maior retorno de ICMS à medida que aumenta o movimento econômico com a emissão de notas fiscais dos produtores”, acrescenta Márcio Lehmann.

No entanto, existem alguns parâmetros que podem dimensionar parte da produção e comércio do pinhão no Estado.

“Realmente uma boa parcela do comércio do pinhão sai sem nota, mas temos um registro de controle das prefeituras”, ressalta o assessor de comunicação da Amures (Associação dos Municípios da Região Serrana), Adilson Lopes.

Também com base em dados de 2019, esse registro mostra o balanço do comércio do pinhão nas principais cidades da Serra catarinense, e indica São Joaquim com maior parte do lucro.

 

Nota de registro das prefeituras da região da Amures sobre a produção de pinhão – Foto: Reprodução/Amures
 
Nota de registro das prefeituras da região da Amures sobre a produção de pinhão – Foto: Reprodução/Amures

A alta movimentação na economia local tem grande influência pela região. Das quase 16 mil famílias espalhadas nos 18 municípios da Amures, em torno de 3 mil famílias têm alguma parte de sua renda vinda da atividade do pinhão nessa época, de acordo com a Epagri.

Por que a extração e comércio do pinhão ocorre em data definida?

A extração e comércio do pinhão é permitida em Santa Catarina apenas a partir do dia 1º de abril. Antes disso, a prática é ilegal. Aquele que desrespeitar está sujeito à multa, além de outras consequências como a apreensão do produto e eventualmente responsabilização penal.

“Isso se deve em função de uma lei de 2011, que serve como um defeso. Porque além do consumo humano do pinhão, nós temos inúmeros animais na nossa fauna que também se alimentam do pinhão”, conta José Márcio Lehmann.

“A partir do mês de março já temos araucárias onde os pinhões começam a debulhar, mas aí tem diversos animais que se alimentam deles, como o papagaio charão, roedores, veados, gado, etc. Então é um tempo para que os animais se alimentem e que haja uma regeneração das araucárias, renovando a floresta.”

O profissional da Epagri destaca também a importância desse período de defeso para a maturidade e garantia de um melhor sabor para o alimento.

“Se fosse permitido no mês de março todo mundo já ia ter colhido o pinhão. E do mês de abril em diante a quantidade de pinheiros ou araucárias que estão maduros já é bem maior. No entanto nem todas já estão maduras, e caso fosse permitido o pessoal tiraria todo o pinhão no mês de março, e muitos ainda não estariam maduros, e são sem sabor, aguados…”

Em termos de saúde, a época de extração não faz diferença, garante Lehmann. Mas ele pondera que, para o negócio, é melhor esperar.

 

“Por exemplo, o consumidor pode comer um pinhão verde e nunca mais querer comer um pinhão, então tem esse fator também, evitar que o pessoal colha todo o pinhão verde.”

Profissão “sofrida e arriscada”: pode ser extinta?

Apesar de uma grande tradição e um forte poder econômico na região, Jaison da Rosa teme pelo futuro do extrativismo do pinhão.

“Tá ficando mais difícil, as araucárias estão muito grandes, não é qualquer um que sobe. Pessoal mais jovem das famílias vai saindo, e ficando pessoas mais velhas nos sítios, então o número de tiradores de pinhão está diminuindo bastante”, analisa.

“É uma profissão de muito risco, então a rapaziada prefere trabalhar nas empresas, nas cidades. Tirar o pinhão é muito sofrido, muito arriscado pro extrativista. No futuro, em uns 20 ou 30 anos, não vai ter mais quem tire, vamos ter que pegar do chão o que sobrar, e o resto vai ficar, porque não vai ter quem suba pra tirar. A situação do extrativismo por aqui tá ficando muito complicada”, lamenta o produtor.

Especialista enxerga revolução no extrativismo

Na visão do doutor em Agroecossistemas e atual coordenador do Centro Vianei, Natal João Magnanti, a problemática levantada por Jaison “é um fato”.

“Essa questão de hoje ter menos jovens subindo em araucária é uma coisa impactante, sim. Hoje temos menos gente querendo sofrer risco de vida ao subir em uma árvore de 15 a 20 metros para tirar pinhão. E isso impacta certamente na cadeia produtiva, não há dúvidas. Concordo que esse é um gargalo a ser resolvido, se um jovem puder ir para uma área com mais lucro e menos riscos, ele vai”, diz o profissional.

Porém, ele ressalta que existem soluções a serem implementadas no modo de vida dos produtores de pinhão.

“Eu creio que isso se resolve também. Existem novas tecnologias que estão sendo utilizadas para a colheita com mais segurança, provavelmente daqui a algum tempo vai ter alguma forma de subir que não exija tanto risco, existem alguns equipamentos e máquinas para subir em coqueiros por exemplo. Tem essa tendência, de se modernizar para a melhoria da segurança na colheita.”

Natal Magnanti levanta, ainda, outro fator que deve ter uma influência ainda maior no modo de vida dos extrativistas: as mini araucárias.

“Eu tenho certeza que o extrativismo e o modo que se pratica hoje vai ser mais impactado pelo plantio de araucária, que vão produzir mais cedo, com volume muito grande de produção, com uso de adubo, sintéticos, calcários, etc. Como um pomar de maçã, vamos dizer.”

Esse novo plantio já é muito estudado por produtores da região e analisado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

“Enquanto tecnologia é perfeita, não tenho dúvidas de que é uma forma de ter uma produção diferenciada. Mas no caso, não é mais extrativismo, se torna um cultivo. E o extrativismo é bastante diferente”, pondera o profissional.

“Envolve a questão de uma certa clonagem, todas aquelas plantas foram originárias de material genético que foram enxertadas em um cavalo – uma planta que serve para produzir o sistema radicular e o caule da araucária. Por isso, também sou crítico a essa ideia dos pomares, porque quem vai ser afetado é o extrativista, pois vai diminuir o preço do produto no fim das contas”, analisa.

Fonte: ND Mais 

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